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30 abril 2025

Faça-se luz


A eletricidade é uma coisa fantástica, viaja à velocidade da luz, mas a energia não se acumula, é necessário sincronismo absoluto entre a produção e o consumo. Quando alguém liga um interruptor em casa, algures uma central de produção estará instantaneamente a responder e a entregar esses watts… Por isso, a gestão das redes e do parque produtor é um desafio muito exigente. Juntando a variabilidade da produção solar ou eólica e a inflexibilidade de regime de algumas centrais como as nucleares, mais complexa é a gestão.

Relativamente ao famoso apagão desta semana, mais do que o disse que disse, o fez não fez a lojinha ou como o viveu aquele dia o senhor António ou a dona Maria, parece-me fundamental esclarecer o seguinte:

Quando Espanha diz que desapareceram “subitamente” 60% da produção/consumo de energia, isto não é uma causa primária, mas a consequência de outra coisa, que foi…?

As redes elétricas têm sistemas de deslastre, que devem funcionar à velocidade da luz, ou quase, para evitar um colapso. Porque falharam aqui?

Aparentemente teremos apenas duas centrais que podem arrancar autónomas, todas as outras só “pegam de empurrão”. Porque apenas duas e porque foi necessário esperar seis horas para carregar no botão? Havia um plano de contingência preparado?

Pilotar um avião em modo automático e em céus tranquilos é muito fácil. Será que “estamos preparados” para enfrentar tempestades e imprevistos? Diria que não…

25 abril 2025

51 e 50 anos


Que se pode dizer 51 anos depois, para lá de fazer evocações do tipo como é bela a Primavera, quando as andorinhas retornam aos ninhos? O 25 de Abril cumpriu muitas das expetativas e esperanças criadas e deixou outras por cumprir. Cada qual tem a liberdade de evocar o que acha que podia ter sido e acabou não ser… Ao fim e ao cabo, haverá sempre coisas por fazer e é de saudar ser possível haver pluralismos nessas buscas…

Hoje apetece-me evocar os 50 anos das eleições de 1975. Nunca se viu, e provavelmente nunca se verá, tamanha motivação e empenho cívico como nesta participação de 91,7% dos eleitores inscritos. Tanta gente que esperou em intermináveis filas e não quis desperdiçar a oportunidade de expressar a sua palavra sobre o futuro do país. Sobre o respeito que certas “forças” manifestaram sobre essa assembleia tão esmagadoramente democrática, a discussão é outra.

Aliás, não esqueço de, ao visitar o Museu do Aljube, ter lido na legenda da ilustração desse momento que “Os resultados desiludiram os que defendiam um processo revolucionário avançado”… povo retrógrado este!

Das minhas queixas sobre o que falta hoje neste país, X ou Y anos depois de uma data qualquer, o que falta mesmo é coragem. Coragem de apresentar e defender frontal e honestamente reflexões coerentes e sãs. Coragem para pensar livremente e assumir os riscos inerentes. Coragem para distinguir humildade de subserviência. Coragem para dizer em alta voz… “o rei vai nu” quando ele se apresenta andrajosamente. Coragem para assumir aquilo em que se acredita.

17 abril 2025

Incoporated States of America


A imagem dos representantes das grandes corporações americanas logo atrás de D. Trump na sua tomada de posse ficará para a história. Não necessariamente pela proximidade do mundo dos negócios à política e ao poder, alguém sempre pagou os milhões das campanhas eleitorais, mas sim pela visibilidade dos mesmos. O segredo é muitas vezes a alma do negócio e as influências desenvolvidas nos bastidores são frequentemente mais eficazes.

Também a linguagem arrogante e grosseira de Trump não será certamente uma estreia absoluta. As famosas gravações da Casa Branca, divulgadas durante o processo Watergate, mostraram um presidente Nixon bastante menos elegante verbalmente do que se imaginaria. A diferença aqui é, mais uma vez, o assumir publicamente essa postura.

Defender interesses nacionais com medidas protecionistas, mais ou menos camufladas, quando tal é considerado útil, também não é uma novidade absoluta, mas a diferença aqui não se fica apenas pelo estilo, é a dimensão e a imprevisibilidade.

Taxas aduaneiras altas são sinónimo de países que não conseguem ter uma economia competitiva em terreno aberto e quem as paga é quem importa. Os EUA pertencem agora a esse clube? Depois, e nomeadamente para bens industriais, que parecem ser o foco principal de Trump, não se ganha dimensão e competitividade de um dia para o outro. É necessário investimento e desenvolvimento de conhecimento, coisas que nunca avançam com regras a mudarem todos os dias. Donald Trump está a comportar-se como um caprichoso e arrogante dirigente de um país que falha e não encontra o bom remédio dentro de portas, como lhe compete.

Para a dimensão do país, a aplicação destas medidas provocaria um impacto dramático na economia mundial… e na própria. Na prática nem sabemos se irá acontecer mesmo assim, ou se é apenas bluff e tática negocial. De todas as formas jogar ao poker nesta escala, isso sim, é inédito.

12 abril 2025

Controlar submarinos e aviões


Há algumas décadas atrás discutia-se e negociava-se a compra de submarinos para a Marinha Portuguesa (o tal negócio que depois ficou famoso…) Faziam parte do pacote negocial as chamadas contrapartidas, ou seja, a parte do negócio a ser feito por empresas locais e outras repercussões económicas para o país comprador.

Um dos consórcios concorrentes, o francês e, por acaso, o que não ganhou, sugeriu que construíssemos na Efacec Automação e Robótica parte do simulador de pilotagem do submarino, utilizado para a formação dos tripulantes. Assim, fui visitar a escola de submarinos francesa em Toulon, onde pude ver vários simuladores, reproduzindo o posto de pilotagem de diversas gerações de submarinos (desculpem-me os submarinistas se o vocabulário não está a ser rigoroso).

Havia nitidamente três gerações e ambientes. A primeira, aí dos anos 60, muito analógica, com mostradores de ponteiros e tudo muito espartano. A segunda que situaria a partir dos 70, já com alguma eletrónica e sobretudo enormes painéis de interruptores retro-iluminados que, quando ocorria um problema, pareciam uma árvore de Natal (monocromática, a vermelho…) de tantas coisas a piscar em simultâneo. Finalmente a última geração, já informatizada, onde a informação era tratada e o fundamental corria bem visível num monitor, percebendo-se mais facilmente o que estava a ocorrer.

Lembrei-me disto recentemente ao “pilotar” um enorme Boeing 777. Apesar de ser um simulador estático, conseguia-se sentir um efeito de imersão e a sensação de que dirigir algo tão complexo pode ser tão simples… quando a rota está lançada e nada de imprevisto acontece. O problema estará sempre nos imprevistos e o grande desafio é, de facto, prever os imprevistos…   

04 abril 2025

Um deputado perto de si

Agora que se vão estabilizando e conhecendo as listas de candidatos às próximas legislativas, gostaria de ver os resultados de um certo tipo de sondagem.

Em cada círculo eleitoral, quantos eleitores conhecem algum dos “seus” candidatos a partir do 3º na lista, sendo que, por exemplo em Lisboa e Porto, para os maiores partidos, falamos de um total de eleitos acima da dúzia.

Depois, para os “famosos” do topo da lista, quantos os associam a algum tipo de ação de defesa e promoção da “terra”? Excluamos os autarcas a atingir o limite de mandatos e que partem em transumância para S. Bento…

Certamente que a governabilidade do país não é compatível com individualismos e caciquismos tribais em cada esquina, mas daí a os eleitores votarem em simples funcionários dos partidos ou famosos cangurus