29 abril 2016

O problema com a Uber


Parece-me claro que o serviço Uber hoje é ilegal. Esperando que nada corra mal, mas um azar pode sempre chegar, gostava de saber quais as consequências a nível de responsabilidade civil e de cobertura por seguros numa dessas eventualidades.

Agora, a solução passa pelo(s) governo(s), escolhendo uma de três opções:

- Liberalizar completamente este tipo de serviço e qualquer meia-dúzia de amigos pode criar uma empresa para tal, sem restrições, nem enquadramento, praticando as tarifas variáveis que entenderem.

- Manter como está, assumir a ilegalidade e tornar efetiva a proibição.

- Legislar no sentido de permitir a atividade da Uber, e outras equivalentes (independentemente de se comunicam por telemóvel ou por sinais de fumo), devidamente regulamentadas.

Parece óbvio que a última opção será a mais adequada, mas a questão principal é porque é que ainda estamos à espera de uma decisão e das ações consequentes. A alternativa de passar cheques dos contribuintes aos taxistas não faz sentido nem é solução. Amanhã vamos subsidiar as tipografias por a edição “on-line” lhes reduzir o negócio?!

28 abril 2016

Café para gatos


Foi notícia esta semana a abertura em Lisboa do primeiro café com gatos, “cat coffee” in english, que sempre soa mais fino. Constato que realmente estamos/estávamos muito atrasados. Já há cerca de 10 anos, e na Argélia, eu frequentava um restaurante com gatos, conforme a foto documenta, ali à entrada das ruínas romanas de Tipaza. Está bem que não se chamava “cat resto”, mas que eram gatos, eram…

Apesar de eu gostar de gatos e de felinos em geral, devo dizer por aqueles não tinha muita simpatia. Miavam desalmadamente aos nossos pés quando aparecia o prato de comida na mesa. Por outro lado, reconheça-se, eram úteis e tinham uma função ecologicamente meritória. Entre o fim da refeição e o levantar da louça de mesa, coisa que poderia demorar um bom bocado, iam adiantando a lavagem dos pratos e reduzindo a quantidade de restos a deitar ao lixo. O ambiente agradece.

Se bem entendi, no tal estabelecimento em Lisboa, pode-se comprar uma hora de convívio com os bichos por três euros, com oferta de café, água ou chã. Não haverá aqui nenhuma “exploração” dos animais? Que dirá o PAN? Acredito ainda que gatos que sejam mesmo gatos, não venderão assim a sua simpática companhia a qualquer um/uma, à hora…

26 abril 2016

A casa da democracia

Tivemos este ano, a presença da Associação 25 de Abril nas comemorações da data na Assembleia da República. Afirmou o Presidente da AR que a “casa era também deles”. De facto, a casa é de todos os Portugueses e se ela hoje existe tal como é, isso deve-se àqueles que realizaram a revolução e também aos outros que impediram a instauração de uma nova ditadura.

Nos tempos recentes do “governo de direita” não estiveram presentes, em protesto. Têm liberdade para isso. No entanto, entre os milhões de Portugueses que votaram no PSD, no CDS e em Cavaco Silva, muitíssimos deles apoiaram o 25 de Abril e não há nenhuma razão para menosprezar a sua opção democrática.

Não existe a “nossa democracia”, há apenas uma, global, que exige ser respeitada por quem se acha democrata. É curioso como o 25 de Novembro ainda continua a ser lembrado por muitos como uma data triste, pela interrupção do “processo”, um revés para a “liberdade”, quando o seu líder foi a seguir democraticamente eleito Presidente da República à primeira volta. Acrescentando Pinheiro de Azevedo nas contas, tivemos 3/4 dos eleitores a sancionarem o 25 de Novembro, o que deveria ser significativo para os democratas.

Esta associação pode marginalizar-se como entender. Se o fazem face a um Parlamento democraticamente eleito, de quem não gostam, estão a reduzir a sua dimensão e a ficar pequeninos para a história. O 25 de Abril, genuíno, não foi para isto.

25 abril 2016

O que falhou?


É a questão existencialista que terão colocado os Portugueses após a perda da independência em 1580 ou os otomanos depois de terem sido ultrapassados pelos europeus e verem o seu pujante império entrar em decadência irreversível até à queda final. Em todos os casos, a frustração quanto às expetativas não cumpridas não se resolve com sebastianismos nem com ladainhas de “Ó tempo volta para trás…”.

O 25 de Abril cumpriu as expetativas? Entendo que, sem ter sido de forma perfeita, fundamentalmente cumpriu: democratizou, descolonizou e desenvolveu. O nível de desenvolvimento do país é incomparável com o de há 40 anos, muito graças à tal Europa de que agora se gosta menos. Quem tiver dúvidas, faça uma visita às estatísticas, do Pordata por exemplo, e comparem o Portugal de 1974 com o de 2016.

Gostaria de ver o 25 de Abril ser olhado mais como uma permanente base aberta para o futuro e menos como algo de falhado ou incompleto. O se se fosse a refazer não é a questão. Os tempos mudam e o futuro constrói-se com esperança, trabalho e seriedade, não com nostalgia do que poderia ter sido e muito menos com rancores mesquinhos. Haja grandeza!


Sobre a origem da foto, acho que, para esta, essa informação se dispnensa

21 abril 2016

Cadé os outros!?


Foi uma expressão celebrizada num programa de televisão humorístico brasileiro. Havia um personagem que assim exclamava, ao ser acusado de ter feito algo errado, surpreendido por ser apenas ele o apontado, quando inúmeros outros em seu redor fariam igual ou pior.

É uma situação que traduz um sistema pouco são. A justiça, formal ou informal, não deverá ser tendenciosa. No entanto, se há 20 condutores em excesso de velocidade e apenas eu sou apanhado, não me servirá de nada invocar o “Cadé os outros?”. Muito mal andaríamos se isso fosse motivo de absolvição.

Surpreende-me no caso do processo de destituição de Dilma Roussef ver esse tipo de argumentação ser usado em sua defesa. Não está correto (?) porque os que a irão substituir têm tantos ou mais telhados de vidro do que ela (para não usar palavras mais feias). Provavelmente hoje na classe política brasileira poucos existirão realmente limpos, mas será isso motivo de “absolvição” ou de relativização, ainda por cima estando em causa a Presidente da República?

No Brasil ou em qualquer lugar, os países só evoluem se houver leis e justiça, iguais para todos na teoria e na prática, de preferência deixando a invocação de Deus, assim como as graçolas e os insultos fora das instituições.

19 abril 2016

De certa forma, já não chega?


Vimos recentemente mais uma iniciativa mediática sobre o tema dos refugiados, desta vez a visita do Papa à ilha grega de Lesbos, culminada na recolha de 3 famílias muçulmanas. Parece-me estarmos distraídos vendo apenas um certo tipo de árvore, esquecendo a floresta. Não seria mais importante, por exemplo, chamar a atenção do mundo para o Iémen onde de há um ano para cá ocorre uma guerra brutal que está a deixar o país completamente destruído e destruturado? Ou sobre os dois “Sudões”? Ou sobre a Nigéria onde 2 anos depois ainda não reapareceram as 200 estudantes raptadas, pelo contrário, outros raptos e massacres se somaram ainda.

Dentro do simbolismo, não seria mais representativo ter trazido também (sublinho: também) cristãos e yazidis que, mais do que da guerra, fogem do extermínio e da escravatura? Mais importante do que apelar ao espírito humanitário de acolher quem sofre, não teria maior impacto e seria bastante mais eficaz pôr a nu as reais causas da desgraça e denunciar abertamente os senhores da guerra, sejam eles quem forem?

Os refugiados que estão algures entre o Médio Oriente e a Europa, são uma pequena parte de todos os que sofrem e estão ameaçados no mundo. A solução, se o objetivo é encontrar soluções para lá do expor a miséria, não é traze-los para a Europa. Não sendo fácil parar as dinâmicas bélicas e destruidoras é muito mais importante acusar e pressionar os seus mentores do que apelar à caridade, invocando inclusive uma certa culpabilização do cidadão comum.

Pessoalmente, não aceito essa pressão, que considero até uma forma de distração. Há gente com mais responsabilidades neste mundo a serem pressionadas em primeiro lugar. A verdadeira solução não se passa pelo paliativo, sempre parcial, da caridade.


Foto do Le Figaro

18 abril 2016

Amigos e negócios

Há que diga que amizades nascidas de negócios podem ser boas amizades, mas negócios nascidos de amizades, serão provavelmente maus negócios. Eu concordo. A relação de amizade implica sempre alguma cumplicidade que não ajuda à objetividade e à exigência clara e mútua, fundamentais para uma sã relação de negócios. Posso, obviamente, ter um amigo que me ajuda a preencher o meu IRS sem uma compensação direta e assumida para esse serviço. É uma escala pequena. Pode ser um favor feito em generosidade pura, mas, como é óbvio, se ele precisar de algo meu, antes ou depois, eu estarei também disponível para ajudar.

Muito estranho e inexplicável é quando um membro do Governo, eventualmente até o Primeiro-Ministro, se serve gratuitamente de um amigo para negociar temas sensíveis envolvendo interesses nacionais significativos, à margem de toda a máquina do Estado, que nem é pequena. Generosidade pura de um amigo que ajuda o outro amigo? Inúmeras perguntas sem resposta razoável se podem acrescentar, havendo dois fatos fundamentais. Não está em causa preencher uma declaração IRS, nem “ajudar” um amigo que, por acaso, é Primeiro-Ministro.

Independentemente das qualidades do amigo e da sua eventual boa vontade desinteressada, estes temas têm que ser tratados num quadro de responsabilização bem definida e, de preferência, evitando até as amizades…

15 abril 2016

Bem prega Frei Yanis

A notícia original não é de hoje mas com os últimos desenvolvimentos ganhou mais visibilidade. Yanis Varoufakis faz-se cobrar generosamente pelas suas palestras (é o mercado a funcionar…) e, pelo menos algumas vezes, terá solicitado que o pagamento fosse realizado para uma conta em Oman.


Não sei se isto se pode chamar “off shore”, mas a responsabilidade social de pagar impostos no seu país pelos seus rendimentos não lhe parece ser relevante. A culpa da Grécia estar constantemente falida e andar de resgate em resgate, está claro, é da Sra Merkel, dos burocratas europeus, dos neoliberais e de outros malditos mais. E lá tivemos o nosso PM a dar um abraço solidário aos heróis da tragédia grega. Imagino que objetivo seria apenas acalmar o berloque, mas fica-lhe/nos mal…

Notícia original, de onde retirei a foto, do “Times” aqui.

14 abril 2016

Questões de história


Quando consulto a página de uma empresa, para tentar entender o que ela é, existe para mim um capítulo fundamental, tão ou mais importante do que os produtos, clientes ou indicadores financeiros. Não, não é a missão e visão e essas declarações de intenções mais ou menos coincidentes com a realidade dos factos.

Muito relevante, para mim, é a história. Onde e quando começou e a fazer o quê. Como cresceu, como encolheu, como diversificou, como se especializou. Uma empresa da qual ignoro a história é um objeto pouco identificado.

Será mais importante conhecer o percurso de há umas décadas atrás, com grande probabilidade de os quadros atuais nem sequer terem vivido pessoalmente uma boa parte desse histórico, do que saber para onde quer ir? Eu acho que sim. Acho que o passado e o caminho trilhado, os percalços e os sucessos vividos marcam fortemente a identidade, para o bem e para o mal. Identificam e condicionam o presente, assim como a apetência e a repulsa pelos diferentes caminhos e desafios vindoiros.

O passado tanto pode ser um alicerce em cima de cujo exemplo se constrói o futuro, como um muro que bloqueia a evolução. Se para cada caso, haverá uma devida abordagem, é sempre fundamental conhece-lo… e não apenas para as empresas.

12 abril 2016

Que é isto?


Na recentemente lançada Nikon D5 era apresentado um valor para a sensibilidade máxima de 3 280 000 ISO. Considerando que há uns dez de anos atrás um valor limite decente andaria pelos 800 e o máximo pelos 3200, passando estes valores para 1600 e 12800 meia dúzia de anos depois, parece incrível realmente já estarmos na casa dos milhões! Deu uns títulos cheios de pontos exclamação!!!

Bom… num teste recente da “Imaging Resource” era apresentada uma imagem tirada com a tal sensibilidade máxima, para a cena acima, o resultado é este:


Uns brincalhões!!!

10 abril 2016

Alguém precisa de um curso…


“Este programa deverá assentar numa maior integração das respostas na perspetiva de quem se dirige ao sistema, tornando, na ótica do formando, coerente e unificada a rede e o portefólio dos percursos formativos, que no percurso individual devem ser passíveis de combinação personalizada”.



Assim é explicado o “Programa Integrado de Educação e Formação de Adultos (PIEFA)” num documento divulgado recentemente pelo Ministério da Educação. Uma coisa é certa. Alguém precisa de um curso: ou quem o escreveu ou eu que tenho alguma dificuldade em o ler… não sei se não será de ter integração a mais e objetividade a menos…

08 abril 2016

De atentados, não tenho medo…

Os recentes atentados em Bruxelas apanharam-me na Argélia, onde, no passado, já ouvi explosões idênticas (apenas ouvi). A mesma Bruxelas em que, há cerca de 20 anos, todas as manhãs eu subia a Rue de la Loi, onde se encontra a estação atacada de Maelbeek. Talvez por isso acompanhei as notícias … com uma atenção especial, que procuro não chamar doentia.

Devo dizer, no entanto, não recear particularmente os atentados e não prevejo mudar um milímetro dos meus hábitos por causa dessa ameaça. Pragmaticamente falando, a probabilidade de ser um dia atropelado ao circular pela estrada de bicicleta é bastante mais elevada e não irei deixar de o fazer por isso.

Preocupa-me, sim, outro tipo de ameaça. De num belo fim de tarde sentar-me numa esplanada em frente ao mar, pedir uma cerveja e ser informado que não a podem servir. Proibido mesmo não é, mas há um novo local de culto próximo e o proprietário do estabelecimento não quer confusões. Face ao meu olhar desolado, propõe-me servir a cerveja numa caneca opaca, desde que eu prometa ter cuidado para não ficar com espuma visível nos lábios.

Estando o tempo tão agradável, decido organizar um churrasco para o dia seguinte. Ao passar no meu talho habitual e pedir salsicha fresca, carne entremeada e essas coisas do costume, sou informado de que já não vendem carne de porco. Proibido mesmo não é, mas como todos os talhos da cidade decidiram não a vender, este também não teve outra opção, para não perder uma parte significativa da clientela. Face ao meu olhar desolado, o talhante lá toma nota do pedido e, passado alguns minutos, regressa com as salsichas e afins bem embrulhadas, tudo convenientemente identificado com uma etiqueta falsa. Pela segunda vez, em pouco tempo, estou a sentir-me estranhamente clandestino.

Neste momento, alguém pensará que devo estar maluco. Não estar preocupado com poder tornar-me carne picada e sim com uma simples etiqueta falsa? Não, não estou maluco. A cerveja e a carne de porco serviram apenas de ilustração simples. Há outros aspetos mais significativos como, por exemplo, a liberdade de expressão e a condição feminina em que pode estar em causa uma mudança radical da nossa sociedade. Existe uma dinâmica com origem no Médio Oriente, buscando estabelecer uma cultura medieva arcaica, dominante, de submissão, cujo impacto vai para lá de um simples ataque terrorista. Nem todos os muçulmanos aderem a esse projeto e alguns serão apenas vítimas de uma manipulação feita em cima da sua identidade comunitária, explorando desencantos de origens várias Mas que tenho medo disso, tenho…

06 abril 2016

Culturas e respeitos


Duas notícias curiosas da mesma semana.

Na Suíça, numa freguesia da zona de Basileia, os estudantes muçulmanos foram autorizados a não apertar a mão das professoras, um cumprimento habitual nas escolas por ali. Tal ato, tocar numa mulher que não é esposa nem familiar, iria contra os preceitos da sua religião. Custa-me a entender. Já cumprimentei com um aperto de mão centenas de muçulmanas sem ter sentido algum constrangimento pela parte delas. Ou seja, isto não é um problema do Islão em geral, mas de uma certa forma de interpretação do mesmo. E se esse Islão é incompatível com a sociedade europeia, não é esta que deve mudar.

A outra notícia foi a contestação das hospedeiras da Air France a serem obrigadas a cobrirem os cabelos à chegada, nas próximas ligações com Teerão. Em primeiro lugar não vejo muita diferença entre essa situação e a da Arábia Saudita. Aparentemente neste último caso a obrigação é apenas depois de saírem do aeroporto, enquanto no Irão será logo à chegada. É motivo para contestatação social e intervenção sindical!?

O Corão não impõe o uso do véu ou da burka. Apenas diz que as mulheres se devem vestir com decoro. Aliás, até há bem pouco tempo, no nosso mundo, as mulheres não costumavam sair à rua com a cabeça descoberta. Há aqui uma evolução latente, mas não me parece que isso seja assunto que diga respeito ao pessoal de bordo da Air France e muito menos ao seu sindicato. São pagas para cumprir uma função e um respeito mínimo pelos locais destino faz parte do seu trabalho, independentemente de o véu ser xiita ou sunita.


Foto da Europe1

05 abril 2016

Dinheiro ao largo

Os detentores de contas “ao largo” (offshore) não são todos iguais na dimensão da sua riqueza, na forma como ela foi obtida e no objetivo desse afastamento dos seus tesouros das costas patrulhadas. Haverá alguns casos que não configuram ilícito nem imoralidade, mas acredito que a esmagadora maioria cai num de dois casos. Esconder dinheiro cuja origem e posse não querem evidenciar (eventualmente suja…), ou não serem tributados nos seus países, mesmo sendo o dinheiro limpo. Sendo a Mossack Fonseca apenas um dos escritórios especializados nestes trabalhos, as entidades e as personalidades que pisam o risco surgem de todos os quadrantes profissionais, sociais, políticos e geográficos.

Não deixa de ser curioso ver países, pela frente, a taxarem as fortunas (o povo aplaude) e por trás a permitirem que estas se coloquem ao largo. Incompetência ou conivência? Obviamente que se pode questionar se faz sentido a imposição fiscal oficial existente, mas o que faz menos sentido é o oficial ser apenas teórico. Ainda no campo da diferença entre a teoria e a prática, convém recordar aos que se lamentam de que só os ricos beneficiam desta facilidade, do dinheiro ao largo, tudo o que circula sem conta. Sim, a economia paralela do serviço sem fatura é apenas outra face da mesma moeda – o offshore dos pequeninos. No fim todos fogem aos injustos impostos e a justiça social é apenas uma ficção para ser contada às criancinhas antes de adormecerem.

Todos diferentes, todos iguais? Não necessariamente. Entre o canalizador e o ministro as obrigações legais são idênticas, mas as exigências éticas são superiores para o segundo. O exemplo deve(ria) vir de cima.

01 abril 2016

Ainda sobre salvar os bancos


O João entregou 20 000 euros de poupanças ao banco; o banco emprestou-os ao José para ele comprar uma carrinha e montar um serviço de entregas. O José restituirá o dinheiro ao banco com juros acrescentados e o banco reembolsará o João, também com juros, mas mais baixos. O negócio do banco está no diferencial dos juros.

Se o José falir e deixar de reembolsar o empréstimo, que acontece ao João? Dentro de certos limites o banco aguenta, mas se a escala for grande e deixar de ter fundos é uma desgraça para o sistema. Mais nenhum João aplicará dinheiro na banca, que também não poderá ajudar a lançar os negócios de outros “Josés”. Daí que, por princípio, quando se fala em salvar a banca, não está em causa ajudar financeiramente o dono do banco, mas fundamentalmente proteger os “Joãos”.

Estou a falar de um cenário de “princípio”, excluindo os casos de polícia. Coisa diferente é o caso “Espírito Santo”. Os lesados foram eventualmente enganados nos balcões de um banco, mas não compraram um produto bancário.

Curiosamente as vozes excitadas que protestam contra os resgates aos bancos (/depositantes), parecem aceitar pacificamente estas compensações mal enquadradas. Se um empreiteiro falir com um prédio meio construído, que acontece aos lesados que arriscaram e lhes adiantaram dinheiro? Têm direito a uma compensação?