30 março 2016

Há violência no Corão?

“Não há imposição quanto a religião" (2:256)

“Mas quanto os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se arrependam, observem a oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho. Sabei que Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo.” (8:5)


Estes dois versículos do Corão têm perspetivas diferentes e contraditórias quando à forma como os muçulmanos devem interagir com os não crentes. Para uns, os versículos belicosos como o segundo têm prevalência. Para outros, o primeiro, tolerante, será de aplicação genérica e o segundo dirigido a contextos bem definidos. Significa isto que, quando após um atentado, se ouve dizer candidamente que o Islão é uma religião de “paz e amor”, a mensagem está truncada. Seria mais útil e didático apresentar as duas visões e defender a interpretação duma delas.

Sendo já outra simplificação resumir o terrorismo islâmico aos ataques suicidas, é também habitual ouvir-se que o suicídio não é permitido pelo Corão. Sendo verdade, está mais uma vez, incompleto. A denúncia e condenação deveria ser extensiva a líderes (sim, líderes) como o egípcio Youssef Qaradawi, pregador vedeta da cadeia de televisão Al Jazeera, ouvido por dezenas de milhões em todo o mundo. Este senhor, polémico mas reconhecido em muitas organizações islâmicas europeias, crismou alguns atentados suicidas em atentados-mártires, para os “legalizar”.

É fácil e consensual condenar os alucinados que se fazem explodir, mas por muitos poderosos e ricos que sejam os apoiantes desses tais líderes (ou precisamente por isso) é necessário estender a condenação a quem de forma mais ou menos assumida, ajuda direta ou indiretamente na alucinação.

27 março 2016

Ultimum moriens


Definição médica: Aurícula direita do coração, a última parte do órgão que se contrai antes da sua paragem completa.

Em sentido figurado: A última coisa a morrer.

Alexandre Herculano: A cidade do Porto é o ultimum moriens da antiga têmpera do caracter português.

26 março 2016

Não roubarás…

Tenho para mim que as religiões, no seu enquadramento social, incluem quatro dimensões. A espiritual, original, sobre a relação do homem com o transcendente; a comunitária, como traço de identidade comum partilhada; a regulamentar, onde se agrupam regras básicas práticas e éticas e, finalmente, a da manipulação política, a que promove as guerras chamadas religiosas.

Dentro do regulamento social associado a uma prática religiosa é normal encontrar-se o princípio do “não roubarás”. Esta condenação/proibição do furto pode ser encarada como uma questão ética, de alguma forma associada à dimensão espiritual, mas também ser entendida como fundamental à sobrevivência da comunidade, à imagem das recomendações sanitárias do tipo “não comer um animal encontrado morto”.

De facto, uma sociedade em que seja aceitável e prática comum o roubo é uma sociedade pouco saudável, no mínimo condenada ao subdesenvolvimento. Uma comunidade em que metade são ladrões e outra metade polícias, não prospera, já sem sequer evocar a possibilidade e as consequências de a própria policia também roubar. Significa isto que motivos para não tolerar o roubo vão muito para lá de princípios éticos e/ou convicções religiosas: incluem proporcionar a criação sustentada de riqueza.

Roubar é, resumidamente, apropriar-nos de algo a que não temos direito. Tanto pode ser aquele que assalta uma casa, como o que desvia dinheiros públicos. O primeiro é repugnado socialmente sem condescendência; o segundo por vezes apela, e com algum sucesso, à relativização e ao descaramento do “roubo mas faço”. Tolerar, mesmo apenas pelo simples ignorar, a rapina é como comermos sem cuidados higiénicos. A prazo, faz sempre mal… Não estará aqui uma das principais razões para andarmos sempre “doentes”, de crise em crise? A quem corresponda!

23 março 2016

Silêncio


Por todos aqueles que hoje deveriam estar vivos, como nós.
Silêncio, nada mais...

(porque nem um insulto nem um palavrão a pena valem)

Imagem extraída do site do "Le Soir"

22 março 2016

Covardia


Já vivi em Bruxelas. O meu local de trabalho ficava a escassas centenas de metros do local onde foi identificada a presença de Abdeslam no passado dia 15/3, em Forest. Todos os dias entrava em Bruxelas pela Rue de La Loi, onde se encontra a estação de Maelbeek, alvo de um dos ataques de hoje. Não é que isso tenha um significado especial. Talvez tenha apenas contribuído para passar a manhã sem me conseguir afastar muito das notícias que iam caindo, um hábito destes dias, que ganhei quando vivi na Argélia, onde, por acaso, até me encontro neste momento. É difícil não repetir as mesmas reflexões das situações anteriores, sentir a mesma revolta e, felizmente, continuar a achar que isto tem que acabar.

Obviamente que a mediatização da perseguição e da captura de Abdeslam foi um espetáculo acessório, uma celebração tragicamente curta. A sua aparente permanência clandestina, no seu bairro durante 4 meses, é por si só suficiente para justificar que não estamos em presença de um lobo solitário e, muito provavelmente, a ação de hoje não terá sido levada a efeito por um comando chegado na véspera do Médio Oriente.

Há uma parte, grande ou pequena, da comunidade imigrada cúmplice e encobrindo a presença destas redes. A outra parte, supostamente bastante maior, não pode simplesmente dizer “nada comigo”. Todas as frustrações, as discriminações racistas, que as há, não deveriam permitir nenhum tipo de contemporização com estes atos ignóbeis e covardes, sob pena de agravar e tornar irreversível o processo.

Não sei se iremos ainda a tempo de termos na Europa um espaço comum onde a comunidade muçulmana esteja integrada e percecionada como respeitadora da convivência pacífica. Sei que esta frase é politicamente incorreta e algo injusta no seu fundo. Mas é pertinente. Não sei se iremos a tempo. Sei que bater na tecla do costume, da exceção, dos “mas” e “também”, vai levar a isso certamente. Denunciem-nos por favor!


Foto extraída do "Le Soir"

18 março 2016

Entre a legalidade e a moralidade

A recente nomeação ministerial de Lula da Silva é absurda e vergonhosa. Mesmo estando ele inocente e a motivação do ato fosse genuinamente política, este passo, neste momento, é um descrédito brutal para o governo/sistema politico brasileiro.

A divulgação das escutas comprovativas do espírito real da manobra é provavelmente ilegal e, como princípio, dificilmente aceitável. As fugas de informação seletivas são uma ferramenta de manipulação terrível e não deveriam ser permitidas num Estado de Direito.

Na prática sabemos que a luta pela conquista da opinião pública passa muito pela divulgação dirigida de informação, muitas vezes supostamente confidencial. Neste caso, a publicação das escutas foi fundamental para clarificar, no momento devido, o verdadeiro objetivo da nomeação de Lula. Apetece dizer que o interesse público justificou o atrevimento. Pode-se?

Com alguma analogia, a divulgação das escutas a José Sócrates, do seu padrão de vida em Paris, dos seus reabastecimentos em espécie, foram também muito importantes para o público entender (quem quiser entender) que há ali algo a “cheirar mal”, independentemente do resultado jurídico final (nunca se sabe quando uma vírgula a mais ou a menos anula provas fundamentais).

Os cidadãos precisam de conhecer quem os governa, implicando isso um escrutínio elevado das práticas dos políticos. A divulgação das “imoralidades” relacionadas com o bem público é de interesse público. Respeitando todas as presunções de inocência e a proteção de privacidade deveria ser possível atender legalmente a essa necessidade.

17 março 2016

Inovação


A inovação não é um tema reservado a uns senhores de bata branca dentro de laboratórios sofisticados (embora possa também passar por isso). A inovação começa na atitude de cada um que, no seu perímetro de ação e responsabilidade, certamente bem definido, tenta sempre que cada hoje seja melhor do que o ontem.

Inovar é ter coragem de arriscar e a organização ter cultura para saber lidar com os erros. Convém não errar 9 em cada 10 vezes, nem perto, mas infalíveis são apenas os que nada arriscam ou que, quando algo corre mal, se descartam (“eu já sabia, eu tinha avisado, ninguém me ouve…”). Uma organização de infalíveis é uma organização deficiente, sem iniciativa e/ou sem frontalidade.

Inovar é ter humildade para ouvir, largura de espírito para projetar, alegria de acreditar, capacidade para motivar e resiliência para aguentar.

Inovação com frutos não nasce da vontade simples e/ou lúdica de inovar, de um experimentar a ver o que dá. Nasce da necessidade de sobreviver. A gestão de recursos, se bem que em moldes diferentes, não é menos exigente do que para as atividades do dia-a-dia habitual. São novos caminhos, não para serem percorridos na ligeireza do turista curioso, mas com método, determinação e disciplina.

16 março 2016

Um agradecimento


Não vem a propósito de nenhum acontecimento ou data especial. Às vezes é bom, necessário e merecido, apresentarmos os nossos agradecimentos e reconhecimento a quem o merece. Refiro-me aqui, hoje, a Jorge Neves.

Para começar, vem uma queixa/recriminação. Ele ensinou-me a mim, e aos demais, uma forma de ver e estar no mundo que não facilita muito as coisas. De facto, isto de assumir e não sair do “pão-pão, queijo-queijo”, é, por vezes, uma grande fonte de problemas. Situações há em que simples e oportunisticamente dizer o que o outro quer ouvir, independentemente das nossas convicções dá muito jeito. Não sou assim, talvez já tenha nascido e crescido com essa tendência, mas ele influenciou-nos e ensinou-nos que, apesar de toda a hipocrisia e “pragmatismo” com que tantos se constroem, é possível e desejável ser-se franco e frontal. Se eu tivesse tido outro tipo de formação profissional e exemplo, o meu caminho seria certamente diferente, digamos que mais “fácil”.

Ensinou-nos que os grandes problemas se resolvem face a face, olhos nos olhos, com maturidade e frontalidade. Muitas vezes mesmo com uma abordagem desconcertante e uma simplicidade surpreendente, mas sempre justamente e sem margem para apelos nem agravos.

Demonstrou-nos que é possível, dentro duma equipa, ser-se irrepreensivelmente leal e solidário, sem facciosismos nem tribalismos. Que os desafios são a rotina e que a coragem é algo a partilhar. Que cada coisa tem verso e reverso, sendo batota esquecermo-nos de procurar o outro lado.

Enfim, muito mais poderia acrescentar, mas o principal está dito. No fundo apenas queria dizer: obrigado!

15 março 2016

Porque não é justo

O governo confirma a distribuição gratuita generalizada dos manuais escolares, para já ao 1º ano do ensino básico. Esta medida, não sendo inédita, já é realizada por algumas autarquias, é injusta. O dinheiro que os vai pagar não sai de um poço de petróleo descoberto no Rossio. A despesa do Estado, incluindo esta, é fundamentalmente uma redistribuição dos impostos cobrados.

Assim, uma família com 800 Eur de rendimentos, eventualmente sem filhos em idade escolar, irá contribuir, através dos seus impostos diretos e indiretos, para que outra que ganha 8000 Eur receba manuais grátis? Não me parece nada, mas mesmo nada, justo…!

11 março 2016

Outras vítimas

Já aqui atrás contei a história da última vítima dos atentados de Madrid do 11 de Março de 2004. Não morreu pelas bombas terroristas. Morreu vítima da manipulação e da prepotência. Em resumo, e para quem não abriu o link acima, trata-se da mulher do comissário de polícia de Vallecas, local onde se encontrou a mochila-bomba não explodida, prova fundamental para identificar a origem muçulmana dos atentados e arrumar de vez com a fantasia da ETA que tanto jeito dava ao PP. Este nunca perdoou ao polícia ter sido o involuntário responsável pelo desmascarar da sua mentira.

Para lá do contexto específico, ser Espanha ou outro país, se quem manipula é um partido de direita ou de esquerda, é certamente muito grave alguém morrer devido não ao ato terrorista, claramente ilegal, com leis claras que o marginalizam e objeto de ação policial que o persegue, mas simplesmente sucumbindo ao assédio injustificável de quem tinha poder e aparelho mediático à disposição. É absolutamente repugnante que poderosos ressabiados, sejam capazes de atacar inocentes de forma tão despudorada, espezinhando-os sem piedade.

O PP perdeu as eleições três dias depois dos atentados, em grande parte, como castigo da sua atitude imoral, mas não aprendeu. O que falta a esta humanidade para ser consistentemente mais honesta, aceitando como únicas regras do jogo válidas as da verdade e as que começam e acabam no respeito pelos semelhantes.

Poder-se-á dizer resignadamente que “nunca”, que é uma utopia. No entanto, sem dúvida, a qualidade do quadro humano e social em que vivemos/viveremos é tanto maior quanto mais próximos estivermos da utopia, quanto menos traficarmos dolos e enganos. Num momento em que no nosso país, parece regredir para um “vale tudo” desde que no interesse próprio; do “manda quem pode” e “quem discorda que se cale” (mesmo tendo razão), não é inoportuna esta reflexão.

10 março 2016

Entre a ofensa e a censura…



Recordam-se do “Humor de Perdição” ter sido suspenso por um “sketch” envolvendo a Rainha Santa Isabel? E de “O Evangelho segundo Jesus Cristo” ter sido banido de uma lista de prémios por ofensa aos bons costumes? E de Salman Rushdie ter sido condenado à morte por “Os Versículos Satânicos”? E das graves consequências das caricaturas de Maomé, culminadas com o ataque ao jornal Charlie Hebdo de Janeiro 2015?

Há uma questão comum à partida, o limite da provocação em questões de fé, e um mundo de diferença quanto às consequências práticas. Saramago gostava de se considerar exilado, sendo isso um exagero e um despropósito desrespeitador da situação dos que realmente se viram obrigados a fugir do seu país.

A provocação pode servir para questionar temas dormentes e ajudar a sociedade a encontrar-se consigo própria. Pode também ser de muito mau gosto, mas o mau gosto não é proibido nem, muito menos, deverá dar prisão ou pior sorte. É também curioso como, nestas polémicas, frequentemente os “ofendidos” reagem e protestam veementemente, ignorando os detalhes do objeto, origem da ofensa.

O “O Evangelho segundo Jesus Cristo” é um excelente livro, lido com prazer por quem não se chocar com o tema, lido com tensão e interrogação por um crente que faça o exercício de o atravessar ou ignorado por quem abominar o fundo da narrativa. Entre uma potencial ofensa e a censura, será sempre preferível a primeira, passível de ser ignorada, desde que não caia no campo do apelo ao ódio.

Valerá a pena evocar: “Se amigos e inimigos não conseguem ofender-te, […] - O Mundo será teu, e tu serás um Homem!”(Rudyard Kipling)?

Dito isto, uma coisa é não proibir, outra coisa é apreciar. A provocação pela provocação, mal fundamentada e estéril é coisa de crianças ou de adultos mal crescidos. O cartaz do BE sobre os dois pais de Cristo, cai neste campo. Pragmaticamente alguns responsáveis lá vieram reconhecer não ser “eficaz”. Não é isto que se espera de um partido político adulto. Já imaginaram um partido de direita citando a Bíblia para argumentar em sentido contrário?

07 março 2016

E se fosse com Trás-os-Montes?

São no mínimo surpreendentes as reações provocadas por um livro e um autor que escreveu/disse coisas com as quais alentejanos e seus amigos discordam. Uma petição pública para pedir a proibição do livro? Onde estamos, no Irão de Khomeini e a “fatwa” só não é mais violenta porque não se pode…?

Falando em “fatwa”, e desculpe-me quem é invocado aqui sem nada ter a ver com este assunto, parece efetivamente que para alguns o Alentejo é um território sagrado, intocável, inquestionável, a tratar com toda a deferência que merece um local de veneração.

Não tenho nada de especial contra o Alentejo mais do que a favor de Trás-os-Montes, mas de uma coisa estou certo. A acontecer uma coisa idêntica com os transmontanos, aposto que eles se ririam e virariam costas com ironia e altivez a algo que considerassem estúpido e despropositado. Não haveria nem um décimo de tanta excitação e muito menos aparato policial especial no lançamento do livro. Por favor, onde estamos?!

06 março 2016

Agora dói mais

Na mesma semana ouvimos a exoneração do presidente do CCB e o anúncio da substituição das administrações dos portos por pessoas da “confiança” dos ministros da respetiva tutela. Não se trata de nenhuma inovação. A alternância dos boys nos jobs não é de hoje nem de ontem e, infelizmente, não parece ir acabar amanhã.

No entanto, desta vez, estas notícias doem mais e já não se conseguem encarar com aquela ironia condescendente. Por um lado há a forma, nomeadamente no caso do CCB do enorme descaramento do ministro e da sua gestão mediática do processo; por outro lado estamos (estávamos?) a sair de um período que doeu muito a muita gente e que deveria ter servido para aprender.

Entre outras coisas, deveríamos ter aprendido que a escolha dos gestores das entidades públicas deveria ter em conta a competência e não a cor do cartão partidário. Para além dos custos diretos e indiretos dessa alternância, resulta que excelentes profissionais mas sem cartão, talvez a larga maioria, dificilmente serão gestores públicos.

Dói também ouvir todas estas reversões compulsivas que, por mais que os arautos oficiais proclamem as suas virtudes, não se conseguem entender. Lembram o “Quem não tem mais que fazer, deita a casa abaixo e torna a erguer”. E nós temos muito que fazer sem precisarmos de entrar nessa sanha demolidora.

A verdadeira melhoria das condições de vida da população só se consegue com crescimento, gerando mais riqueza. Todos de acordo. Como se cresce? Não creio que seja com mais feriados com os STCP geridos por autarquias, nem com greves na TAP medidas em prejuízos de dezenas de milhões de euros. Não creio nisso, mas tenho a certeza de uma coisa: crescimento só com gente competente!

04 março 2016

A Selva de Calais


Na periferia norte desta cidade do norte de França, próximo do acesso ao porto donde saem os ferries que atravessam a Mancha, concentraram-se milhares de migrantes que, mais do que simplesmente fugirem dos seus países para a Europa, pretendiam especificamente atravessar o canal e entrar em Inglaterra.

O seu acampamento improvisado, caótico, sem condições mínimas ficou conhecido por “selva de calais”. A situação era insustentável em vários pontos de vistas, tanto para quem vivia dentro, como para quem vivia fora… e não faltavam protestos solidários. França decidiu, muito logicamente, arrasar aquilo e, como estamos em França e não num país de opereta, oferecendo alojamento alternativo em vários centros distribuídos pelo seu território.

Ora bem, muitos habitantes da “selva” não querem sair. Por um lado por ficarem mais longe do seu destino almejado e, por outro lado, ao sair são forçosamente recenseados e registados. Os mesmos que faziam comércio político com a existência do local, são agora solidários, de novo, com os que não querem sair e criticam o uso da força policial… não há pachorra para tanta imaturidade (ou oportunismo…) e “polémicalice”.



Imagem do “The Guardian” – Sim, é  na Europa. 

02 março 2016

Obama e Guantánamo


A poucos meses do término do seu segundo mandato, Obama voltou a falar do encerramento da famosa prisão. A associação destas duas palavras, ou a falta dela, durante 8 longos anos, é um indicador muito significativo sobre a isenção da informação que nos chega.

Não pretendo atacar especialmente Obama. De uma forma geral os seus mandatos foram incomparavelmente melhores do que os do seu antecessor e vejo com alguma preocupação as sondagens atuais e as perspetivas futuras.

A minha questão é: tentem fazer um esforço de pesquisa e vão ler o que diziam tantas vozes destacadas deste mundo sobre Guantánamo e George W. Bush há 9-10 anos atrás. “Vergonha” seria a palavra mais macia…

Ora bem, o, por acaso, também Nobel da Paz está a terminar o segundo mandato sem ter efetivamente conseguido acabar com aquilo. Porque estão calados aqueles que, pelo mesmo motivo, apedrejavam Bush sem descanso? Não faltará um pouco de coerência?

Se nas próximas eleições for eleito um republicano (rezando a todos os santinhos para não ser D. Trump), iremos voltar a ouvir falar duma “vergonha mundial inaceitável”?