30 setembro 2014

Não foi em envelope

Depois de alguns dias de reflexão o nosso primeiro-ministro veio dizer que nada recebeu como remuneração da Tecnoforma nem da sua ONG satélite. Foi apenas reembolso de despesas efectuadas. Era importante saber um pouco mais sobre isso porque facturas há muitas…

E lá se aguenta, como também se aguenta o seu homólogo espanhol, à partida até bem pior colocado. Ao que parece, ele e demais notáveis do partido, recebiam notitas dentro de envelopes, geridos e distribuídos pelo tesoureiro do partido.

Esta remuneração B de políticos, melhor ou pior enquadrada, é uma praga que vai para lá dos aspectos fiscais de rendimentos não declarados ou incompatibilidade com o estatuto de exclusividade. Mesmo até com facturas certinhas e rendimentos declarados, não há almoços grátis. O dinheiro que circulou pela tal ONG que origem tinha e qual o propósito real da sua utilização? Obviamente que não se explica por uma lógica económica “normal”. Como milionários excêntricos não há assim tantos a fumarem notas pelo prazer de gastar, há neste e em tantos outros casos uma razão que a ética desconhece.

A autoridade só existe se houver moral em quem a exerce, independentetemente dos sacrifícios em curso que vivemos, que simplesmente a tornam mais premente.

29 setembro 2014

Riqueza para distribuir, deve ser criada

Na mesma altura em que se anunciam recordes de encomendas para o novo iPhone recém-lançado, uma ONG de Hong Kong lança mais uma polémica sobre a fábrica chinesa da Foxconn que produz equipamentos para Apple. Fala-se em 13 casos de leucemia, provavelmente ligados às condições de trabalho, embora sem haver clara confirmação da relação causa-efeito. Não tenho naturalmente nada contra a China e o seu desenvolvimento, mas as questões recorrentes quanto às condições de trabalho reais demonstram ser um ambiente economicamente imbatível.

Nesta Europa deprimida e em crise crónica, quem governa não encontra mais remédio do que ir acrescentando buracos ao cinto que nos aperta e quem está na oposição, em geral, declara ser contra a austeridade e “pelo crescimento”. Nomeadamente a oposição de esquerda faz fóruns e plataformas para reunir pessoas contra “esta política”. É preciso ir contra os antigos “porcos capitalistas”, que agora ganharam uma nova alcunha de “mercados”, para manter o estado social, a solidariedade e todas essas coisas inquestionavelmente importantes.

No entanto, quantos dos participantes nesses fóruns e plataformas não terão uma poupançazita num fundo qualquer, que em boa parte são quem alimenta os malditos “mercados”? Mesmo sem terem corrido a encomendar o novo iPhone, quantos não convocarão essas reuniões de protesto e reflexão a partir de um equipamento fabricado numa Foxconn qualquer, com operários descartáveis e a trabalhar muito mais horas dos que as permitidas cá? Quantos estariam dispostos a pagar algo mais por um equipamento produzido na Europa, permitindo reduzir o desemprego e criar a tal riqueza que tão afincadamente querem distribuir?

Antes dos discursos inflamados e dos apelos à defesa das “políticas sociais”, seriam interessante entender porque esta está a falir, ir à raiz do problema… e ser coerente.

28 setembro 2014

Ninguém falou em desculpas

Num texto anterior eu referia a necessidade que os muçulmanos responsáveis tinham de separarem o trigo do joio e demarcarem claramente o que é o islão espiritual do político e muito especialmente da barbaridade em curso na Síria e Iraque. Certamente que não era só eu a pensar assim. Um conjunto de figuras relevantes do islão sunita veio a público e, com base na sua interpretação do Corão, evidenciar que que o que lá se passa não está de acordo com os princípios da sua religião. Pode ser discutível terem excluído shiitas e mulheres dos signatários, para terem mais força, mas globalmente é positivo. Seguiu-se uma série de iniciativas individuais de muçulmanos do “not in my name”, que quiseram realçar que os bandidos não falam em nome deles.

No entanto, é no mínimo curioso como estas iniciativas conseguem levantar polémica. Há alguns muçulmanos que acham que não têm nada que se manifestar, não têm desculpas a apresentar, isso pressupõe uma presunção de culpa que eles não assumem.

Se um conjunto de fanáticos desatar a matar mouros em Tanger, invocando o nome de Portugal, eu não me sinto culpado, mas sinto-me certamente obrigado a dizer em voz bem alta que “o meu Portugal não é esse”. Ninguém é obrigado a assumir publicamente uma posição, mas em muitas alturas é altamente recomendável. Não ter culpa não justifica assobiar para o lado no estilo “isso não é comigo”. Muito pelo contrário.

26 setembro 2014

Ignorância

Passou-me e saltou-me à frente dos olhos um número especial (mono)temático de uma publicação francesa de referência, “Le Point”, com o título “Essas viagens que mudaram o mundo”. No subtítulo (sobretítulo?) vinham os nomes de Cristovão Colombo, Marco Polo, Alexandra David-Neil, Bougainville, Livingstone, Charcot… Espera aí: quem são aquela Alexandra e o Buganvília de quem, na minha ignorância, nunca ouvi falar? E já sem referir o Charcot que me diz qualquer coisa, mas não mais do que o Amudsen. E então Vasco da Gama e Fernão de Magalhães? E,para não ficarmos apenas pelos nossos descobrimentos, Charles Lindberg, Yuri Gagarine ou Neil Armstrong, as suas viagens não terão mudado o mundo e em muito?

Não resisti a folhear a publicação para confirmar que os nossos lá estavam. Não tive tempo para ler nem coragem para comprar a revista, mas deu-me um certo amargo de boca recordar-me de que já tinha comprado e lido alguns outros números de tema específico e supostamente de “referência”. Obviamente que para ser vendido em França terá mais sucesso com aqueles destaques. Às tantas, alguém até a compra só para saber quem é aquela Alexandra compatriota tão distinta… mas num tema “grandes viagens”, num destaque de 6, conseguir colocar 3 franceses é um grandessíssimo e evidente exagero, que não abona nada em favor da real “Grandeur de la France”.

Eu sei que os grandes que nos ultrapassaram têm dificuldades em assumir o protagonismo dos pardais lusos nessa fase… mas, por menos reconhecido ou divulgado, não tem menos valor!

Nota: Para quem gosta de livros de viagem, o relato da viagem de Fernão de Magalhães é qualquer coisa de fantástico e uma grande lição de vida

25 setembro 2014

Mais do que trapalhadas, interrogações

Ainda na sequência do rapto e da execução do turista francês nos montes da Cabília, Argélia que referi ontem… A zona em que foi raptado é mais do que conhecida por ser perigosa. Em Abril deste ano, por exemplo, uma emboscada vitimou 11 soldados.

Na véspera do rapto um grupo de 15 terroristas atacou e roubou um grupo de argelinos que por lá passeava. Supostamente o exército lançou de seguida uma operação de busca na região para tentar encontrá-los. Isto aconteceu no sábado, foi noticiado no domingo, no mesmo dia em que o francês e uns amigos argelinos resolveram ir passear... para a mesma zona! Estavam hospedados a uma vintena de quilómetros… e não souberam?!? E não haveria uma presença militar acrescida na zona, devido aos acontecimentos da véspera?

Uma palavra final para a Cabília. Uma zona com uma cultura específica, uma língua e até mesmo um alfabeto próprio, na imagem aqui exposta. Quem quiser saber mais pode ler aqui.

Nota : As roupas tradicionais femininas lá são muito bonitas.

24 setembro 2014

Trapalhadas trágicas

Estou neste momento em Argel (não é muito meu hábito relatar assim em directo) a menos de 200 km do local onde foi raptado domingo um turista francês, na imagem acima, e supostamente hoje executado, por um ramo do tenebroso “Estado Islâmico” que controla barbaramente uma parte da Síria e do Iraque. Perigoso por aqui? Não especialmente.

Em primeiro lugar. Porque raio foi o malgrado senhor passear para uma zona de montanha inóspita, que toda a gente sabe infestada de terroristas e bandidos? Que até escassos dias antes se tinham “mostrado”? Onde o próprio exército tem todos os cuidados quando por lá circula?!

Em segundo lugar. O grupo em causa, de “Estado Islâmico” só tem o nome e emprestado. Explico. Dos conturbados anos 90 e particularmente do GIA - “Grupo Islâmico Armado”, que sucedeu militarmente ao partido banido, o “FIS”, subsistiu nos anos 2000 o GSPC. Quando a “Al Qaeda” ganhou notoriedade mudaram de nome para AQMI – Al Qaeda para o Magreb Islamico. Agora como o que está a dar nas notícias é o “Estado Islâmico”, estes resolveram trocar de bandeira. Enfim, uns vira-casacas!

23 setembro 2014

Cidade das tradições

Este fim-de-semana decorreu em Lisboa uma interessante iniciativa do Inatel denominada “Cidade das tradições”. Na ficha do evento até aparecia a RTP como parceiro. Eu contava que transmitissem algo, eventualmente até em directo. Temas e motivos de interesse não faltavam, na minha opinião pelo menos.

Durante a tarde de domingo fui espreitando o écran mas não vi nada em nenhum canal… filmezecos e a pimbalhada do costume…!! É este o papel cultural dos média …? É muito pobre, não é?

19 setembro 2014

A fábrica

Leio hoje que a Cerâmica de Valadares irá retomar a produção. Não sei o suficiente para julgar os méritos e os deméritos de quem a geria quando caiu e de quem a retoma agora. Uma coisa parece-me evidente: com a situação actual da construção na Península Ibérica a missão não será fácil.

O meu pai trabalhou quase toda a vida “na cerâmica”, que às vezes até era simplesmente “a fábrica”. Os tempos não eram para luxos, mas “a fábrica” era uma referência muito forte. Não apenas pela estabilidade que transmitia, mas também pela sua força como referência comunitária. Não me recordo de tudo, mas as actividades desportivas, sociais e culturais, formais e informais, estavam lá em cada esquina, marcando fortemente o tempo livre do meu pai e também, em parte, da família.

Não seria caso único e talvez ainda existam outras “fábricas”, sobreviventes, com esse cariz e essa força comunitária. Poderão não ser exemplos de eficiência ou de sucesso económico, mas mereciam ser estudadas. Certamente que quem vive, porque trabalhar também é viver, em empresas que são compradas e vendidas a cada passo, onde o objectivo é esbeltar ou engordar o porquinho, melhorar a sua aparência, seguindo naturalmente as melhores práticas de gestão, para melhor serem vendidas a seguir, não viverá muito bem.

As melhores práticas de gestão dizem que as pessoas e a sua motivação são importantes, mas a prática não é algo que possa ficar pela montra. Motivação e identificação não se decretam, constroem-se. Muitas vezes serão construídas com sucesso por quem não leu livros de gestão, mas que sente as pessoas. E desejo boa sorte à nova velha fábrica .

17 setembro 2014

Barrigas de aluguer

Marinho e Pinto usou o MPT como “barriga de aluguer” para se candidatar ao Parlamento Europeu e com bastante sucesso. Depois do lugar ser parido, zangou-se com a mãe biológica do mesmo e quer voar pelas suas próprias asas. Parece bastante evidente que vão todos acabar mal. Esta coisa, dos partidos em nome individual – eu quero intervir politicamente, logo crio um partido – é algo básico, um pouco terceiro-mundista e, sobretudo, de futuro muito incerto. Nem Eanes conseguiu aguentar o fantástico sucesso do PRD em 1985 e Marinho e Pinto não se compara para melhor ao então Presidente.

É um facto que actualmente não existem muitas alternativas políticas claras e diferenciados e é sintomático que vários movimentos de contestação recentes fiquem simplesmente identificados pela data em que ocorreram, mas, hoje e sempre, um projecto político para sobreviver precisa de mais do que um nome ou uma data.

Sobre o pecado original de Marinho e Pinto não me parece assim tão grave. A particularidade e o incómodo foi ser uma barriga de aluguer exótica. No entanto, de entre todos os deputados e políticos activos, quantos não terão escolhido o seu partido actual apenas pela razão de que com esse “chegavam lá”? Quantos, e até notáveis, já mudaram de cor ao sentirem que melhorariam a probabilidade de sucesso? Quantos estarão dispostos a sair, caso a direcção do partido tome um rumo contrário às suas convicções? Já agora, quantos terão convicções?

16 setembro 2014

Road show Portugal Global

O Aicep vai para a estrada, ajudar as empresas portuguesas a internacionalizarem-se. Percorrerá o país num contacto próximo com o tecido empresarial. Não se sabe bem como decorrerá na prática, mas a ideia parece boa e de louvar.

O curioso é o calendário: 12 cidades, uma por mês. Começa a 17/9/2014 em Leiria e acaba em 17/9/2015 no Porto. Na prática dá mais dum ano porque Agosto é mês de férias a respeitar, se bem que poderiam ter aproveitado para fazerem Faro…

Não há dúvidas de que esta malta política/funcionário público tem uma noção temporal muito própria… se isto é mesmo importante e premente, qual o sentido de acabar daqui um ano? As empresas das últimas cidades que esperem e aguentem, uma acção por mês é o máximo que se pode. Palpita-me que o “show” anda a usar velhas “roads”… e autoestradas novas é coisa que não nos falta!

12 setembro 2014

A polícia da Sharia

Estes senhores vestidos com uns coletes bem visíveis como os “comissários” dos estádios de futebol (in english stewards), têm por função auto proclamada percorrer as ruas e chamar os muçulmanos à razão quanto a comportamentos impróprios como beber álcool, pressionar as mulheres a usarem véu e limitar/impedir a frequência de bares, discotecas e outros locais pecaminosos.

Não, não estão em Ryad ou Teerão. Aí essa função é desempenhada por polícia oficial. Estavam em Wuppertal que é uma cidade do “Reno do Norte – Westefália”, ali mesmo no coração da antiga zona indústrial alemã, ao lado de Dusseldorf e a escassos 250 km de Bruxelas, capital da nossa querida Europa. Obviamente que na Alemanha isto não fica assim e os seus devaneios não duraram muito, mas o impacto desta “liberdade” chegou longe. A própria Sr Merkel veio dizer publicamente que “o estado tem o monopólio da violência legítima e ninguém pode pretender substituir-se à polícia”. É bastante sintomático que esta iniciativa de meia dúzia de iluminados/alucinados tenha tido tanta repercussão.

O mais curioso é que certamente nada do que foi dito ou feito terá alterado um milímetro das convicções e determinação destes “indivíduos” e amanhã, de laranja ou amarelo, de colete ou de braçadeira, em Wuppertal em qualquer outro lugar, voltarão à rua achando que têm o direito de impor a sua visão a todos ao que nesta europa os deixam viver em plena liberdade. E mais não digo, porque me sinto capaz de exagerar e descambar.


Foto e noticia de base extraidas do "Jeune Afrique"

11 setembro 2014

O dia do vinho fino

O dia 10 de Setembro marca a data da delimitação geográfica da região de produção do chamado vinho do Porto, iniciativa notável e pioneira no mundo, promovida pelo Marquês do Pombal em 1756. Os franceses adorariam certamente que essa primazia tivesse ocorrido em Bordéus ou em Champanhe, mas não foi e o Alto Douro merece sem dúvida esta honra. Não conheço nenhum cenário tão espectacular e imponente, recordando que não é natural, mas sim construído e inicialmente até à força de braços. Os enólogos poderão acrescentar algo sobre as características únicas das suas vinhas.

Este ano, pela primeira vez, celebrou-se nessa data o “Dia do Vinho do Porto”. Ao ouvir um responsável ser entrevistado sobre o assunto, ele referia que mesmo em Portugal a bebida não era suficientemente consumida e divulgada. Fez-me lembrar um comentário que fiz a uns europeus do norte quando me falaram de uma famosa bebida portuguesa de cor rosada e adocicada, muito popular na terra deles. Eu disse-lhes que isso era uma espécie vinho para quem não sabia o que era realmente vinho e que os portugueses praticamente nem a bebiam. Uma boa parte do vinho do porto comercializado é um xarope para quem não sabe o que é o vinho fino ou tratado, designações durienses na origem.

É certo que os seus mercados principais gostam de bebidas docinhas, mas para o vinho do Porto ganhar o respeito pleno dos portugueses e dos povos do vinho, devia haver uma separação mais clara e uma promoção diferenciada entre, dum lado, os xaropes afinados de origem misturada e pouco esclarecida e, do outro, os vinhos sérios, com personalidade e identificação clara geográfica e temporal.


09 setembro 2014

O Islão em transição


Começo por referir que tenho vários amigos muçulmanos a quem muito respeito, desejo as maiores felicidades e que também não me querem nenhum mal. É necessário ser prudente e evitar embarcar em considerações generalizadoras e redutoras quando se fala do mundo islâmico. Separando as coisas, para lá do Islão espiritual e religioso no sentido estrito da palavra, há, no entanto, um Islão político, que usa a religião como estandarte de campo de batalha. Como exemplo simples e significativo, o conflito antigo e ainda actual entre sunitas e chiitas, com tanta desgraça e mortes na sua conta, tem muito mais a ver com uma luta pela influência temporal do que com concepções espirituais. E, aquilo que a Europa cristã fazia há uns séculos atrás, de alargar a sua marca religiosa pelo mundo fora, com uma promiscua aliança entre a cruz e a espada e um oportunista cruzamento de interesses, ainda está hoje nalgumas agendas, se bem que com meios diferentes.

Surpreende ser possível encontrar e recrutar no nosso mundo ocidental voluntários dispostos a partirem para o médio Oriente, para degolar infiéis. Penso que o campo de recrutamento terá duas vertentes. Por um lado estão aqueles radicais “desta sociedade”, que são simples e basicamente a favor de quem está contra ela, da mesma forma como no passado foram venerados Mao, Staline entre outros criminosos e terroristas. Doutro lado estarão os muçulmanos desenraizados. O primeiro caso parece-me ser um fenómeno transitório, muita gente com grandes responsabilidades actualmente andou por esses caminhos na sua juventude, enquanto o segundo é mais permanente. O que está por trás desta radicalização: raiva, frustração, sentimento de exclusão/humilhação? Contra aquele espírito de raiz cristã do “somos todos pecadores/a culpa também é nossa”, convém recordar que o esforço feito na Europa, hoje laica, para integrar e respeitar as várias religiões, e nomeadamente a muçulmana, é absolutamente incomparável a algum esquiço de reciprocidade que se possa encontrar do outro lado.

No tempo actual, ninguém deveria ter dúvidas de que uma religião se deve afirmar por si, pelos seus valores, por opção pessoal de cada individuo, num plano fundamentalmente espiritual e minimizando o seu impacto na “sociedade dos outros”. A luta em causa, qualquer que seja o idioma em que se conjugue, será uma luta interna de cada um pelos seus valores e princípios. No entanto, num país muçulmano de referência que é a Arábia Saudita, renegar a religião, apostasia, ainda é crime passível de pena de morte. Como isto não é certamente deste tempo, e dificilmente de tempo algum, há uma evolução pendente de uma parte do Islão, que se deve centrar nos princípios, apagar os “detalhes” anacrónicos e encontrar formas de afirmação mais sãs. O expansionismo forçado, musculado ou macio, tem efeitos nocivos. Usar e deturpar princípios espirituais para esse fim não é nada de novo, mas está a apresentar um efeito terrível que é um retrocesso brutal na humanidade e na irmandade entre os homens. Os muçulmanos sérios têm uma responsabilidade enorme em travar isto.

04 setembro 2014

Sacrifícios menores

Se a Ucrânia fosse membro de pleno direito da Nato, hoje poderíamos estar em guerra. Sendo relativamente inquestionável que forças militares russas invadiram o seu território, isso seria suficiente para os outros membros da aliança terem a obrigação de actuarem para defenderem o membro atacado. Pode-se questionar se Putin se comportaria da mesma forma se a Ucrânia fosse membro pleno da organização e pode entender-se que ela e todos os países vizinhos da Rússia com pretensões de autodeterminação busquem essa protecção.

Sabendo que este mundo é muito diferente do que existia em 1968, aquando da sua intervenção em Praga, o que quer a Rússia e até onde irá nesta sua acção bélica? Até onde iria um conflito hoje entre a Nato e a Rússia? É possível vermos uma mobilização geral na Europa e gente ir para a frente da batalha matar e morrer? Penso que não, que os custos políticos/eleitorais dum cenário desses sejam incomportáveis. Putin talvez saiba disso e jogue com essa opção pela comodidade do nosso mundo que não sabe e não quer estar em guerra.

No entanto, isso não deveria ser equivalente a “ter medo”. O que a Rússia está a fazer é suficientemente grave para não poder ser ignorado e ter que ser travado, mesmo com alguns sacrifícios. É preferível não ter gaz para aquecer as casas ou não ter cliente para a indústria militar do que matar e morrer ou deixar matar e morrer à nossa porta.

01 setembro 2014

O que é a melhor cidade?

O “Economist” publicou o resultado de uma avaliação das melhores cidades do mundo para se viver e o resultado é o seguinte:

1 – Melbourne – Austrália / Oceania – Inglês
2 – Viena – Austria / Europa – Alemão
3 – Vancouver – Canadá / América do Norte - Inglês
4 - Toronto – Canadá / América do Norte - Inglês
5 - Calgary – Canadá / América do Norte - Inglês
6 – Adelaide – Austrália / Oceania – Inglês
7 – Sideny – Austrália / Oceania – Inglês
8 – Helsinquia – Finlândia / Europa – Finlandês
9 – Perth– Austrália / Oceania – Inglês
10 – Auckland– Nova Zelândia / Oceania – Inglês

Acrescentei na lista o continente e o idioma. Neste universo de 10, o inglês arrasa com 8, a remota Oceania tem 5 e, em países, Austrália + Canadá juntos fazem 7.

O estudo é sério e tem critérios objectivos bem definidos, certamente avaliados com rigor. As áreas estão nomeadas e são sem dúvida relevantes para a qualidade de vida: estabilidade, infraestructuras, saúde, educação e ambiente. No entanto, eu olho para lista e torço o nariz: esta não é a minha lista. Mesmo no nosso meio mais próximo, não consigo convencer-me da excelencia da qualidade de vida em Helsinquia! Que componente faltou aqui e que para mim tanto vale? Ser um local onde há saber viver e onde as pessoas sabem sorrir? Não será relevante haver Sol e horizontes abertos ? Por outros palavras, não é fundamental haver beleza nas pessoas e na paisagem? Será difícil medi-lo numa escala global e talvez nem faça sentido sequer tentá-lo, mas que é importante, é!

Preocupante é o facto de as cidades da lista acima estarem associadas a prospriedade e, por isso, até parece que somos pobres e ficamos felizes com isso... Seja! Como dizia uma cançãozita “a miséria é menos penosa debaixo do Sol”.