20 maio 2012

Pressão e descompressão

Se um Senhor José telefona a um jornal com ameaças, pode o jornal ignorar a pressão e considerar que não deve reagir nem divulgar os factos enquanto não houver violação de lei. Aceita-se.

Agora, no caso de Miguel Relvas, pela função da pessoa, pelo conteúdo e pelo contexto, a ser verdade, é demasiado grave para ser ignorado com o simples argumento de não haver suposta violação de lei. Não sei se o código penal chama a isto crime, mas no código moral não há a mais pequena dúvida.

Por isso, a quem direito, jornal, governo, ERC e, se necessário for, a própria policia: por favor lavem esta coisa a fundo, porque senão vai ficar um cheiro pestilento que ninguém aguenta.

08 maio 2012

Pela grandeza da França


Em França basta evocar a “Grandeur de la France!” para fazer furor. Sendo essencial abrir bem as vogais e arrastar os “r”s, não é absolutamente necessário especificar a grandeza em causa nem como lá se chega. Sarkosy e Hollande, cada qual à sua maneira, chamaram por essa grandeza. O primeiro dando o braço à Sr Merkel, que agradeceu para não ter que dançar a valsa sozinha, equiparando o seu país ao grande vizinho alemão na definição e implementação das linhas de orientação para a Europa. O segundo, algo mais traquina, achou que essa grandeza passa pela especificidade, qualidade também muito apreciada lá no hexágono, e por fazer um manguito à dita senhora e à sua receita de austeridade. 

Não ficou claro para mim o que o senhor Hollande fará mesmo para passar do “ser pelo” crescimento a “realizar” esse crescimento. Se é construindo mais auto-estradas e mudando caixilharias das escolas, isso nós já vimos por cá e respectiva ausência de resultados positivos. Estou muito curioso para ver como ele irá reagir quando, a ser confirmado e implementado o seu voluntarismo, os juros da dívida pública francesa dispararem. Não basta dizer mal dos mercados; quando se precisa muito de pedir emprestado manda quem empresta e não quem pede. 

A alternativa é obviamente desvalorizar o euro, reconhecer que a Europa está mais pobre e que não é com empreitadas públicas voluntariosas que vai magicamente recuperar em seis meses. Criará inflação, um fantasma na Alemanha, mas uma coisa a Sra Merkel deveria entender e ponderar. Nenhum país altamente endividado e em ambiente depressivo consegue sobreviver a pagar 6% ou mais de juros. Estando Espanha no dobrar da esquina nesse capítulo e o Sr Hollande com vontade de ir a correr para lá, esperemos que, com limitação de estragos, se consiga mudar algo enquanto ainda há controlo para poder mudar.