Páginas

10 agosto 2005

FMI, FMI


Já não me lembrava de ver alguém "bater" tanto no FMI desde um espectáculo do José Mário Branco, há uns bons largos anos! Desta vez foi o livro “Globalização – A grande desilusão” de Joseph E. Stiglitz.

No entanto, enquanto José Mário Branco é um “cantante-autor” de intervenção, o senhor Joseph E. Stiglitz, foi prémio Nobel de Economia em 2001, chefe do Conselho de Consultores Económicos de Clinton, e um dos vice-presidentes do Banco Mundial!

O livro causa uma impressão estranha. Repete e martela algumas ideias e opiniões vezes demasiadas para o que seria previsível numa obra estruturada e esclarecida. Dá ideia de que há ali uma relação emocional mal resolvida entre o autor e o FMI. O título do livro nem parece muito ajustado ao conteúdo porque, embora começa e acabe em torno da globalização, toda a parte central é um contínuo questionar do FMI. Restringindo-nos aos factos e aos resultados evidenciáveis, as conclusões dão que pensar. Se o FMI fez tantas asneiras, amplificou crises em vez de as atenuar, será por ignorância arrogante ou, mais grave, numa estratégia consequente e velada do seu sócio principal, os EUA? O sobre-endividamento crónico não acaba por ser uma forma de “escravatura”, como acontecia com os seringueiros na “Selva” de Ferreira de Castro?

Ideias base que ficam: A distribuição da riqueza no mundo tem piorado e este é um problema da humanidade – “Não me perguntes por quem os sinos dobram”. Uma organização desenhada nas cinzas da Segunda Guerra Mundial, a belo prazer dos vencedores, tem um poder brutal sobre os “desgraçados” que tropeçam. A sua receita dura e dogmática, muitas vezes de resultados duvidosos, não se pode considerar isenta dentro da teia de interesses económicos e financeiros globais. Possui uma perspectiva demasiado financeira para o que deveria ser a procura do bem-estar de quem connosco partilha este planeta. Não estará na hora de revisitar Breton Woods?

Acrescento uma nota pessoal. Nos finais dos anos 90 desloquei-me frequentemente à Argentina, que, segundo o FMI, estava exemplarmente no bom caminho e, mesmo sendo eu um ignorante na matéria, não conseguia entender a sustentabilidade duma economia com a divisa indexada ao dólar, sem inflação e que tinha remuneração de capitais, incluindo divida pública, largamente superior à inflação… Que a situação não era do interesse da Argentina era claro. Era ainda mais do que óbvio que acabaria por estourar, como veio a acontecer. Que os especialistas do FMI não o tenham previsto e tenham insistido na “via exemplar”, permanece, para mim, um mistério.

1 comentário:

  1. Anónimo16/8/05

    Estou plenamente convencido que o "FMI" é uma organização dos "agiotas" da globalização...

    AMP

    ResponderEliminar